Não faz diferença onde você mora ou que plano de saúde você tenha, público ou privado, porque no final das contas médico é uma questão de sorte! Digo isso com a experiência de quem já passou na mão de muitos sistemas, passando pelo SUS inúmeras vezes (incluindo cirurgias!), planos caros da Unimed e muitos médicos americanos – privados e do governo! O primeiro sistema sofre preconceito de muita gente, mas com sorte, você pode cair em centros de excelência modelo repletos de mãos maravilhosas para cuidar de qualquer que precise! O último sistema (americano) é idealizado por muitos brasileiros como algo de “primeiro mundo”, mas a verdade é que se não houver sorte, você vai ficar na mesma M.
A sorte de cada um vai indicar o nível de satisfação após a consulta ou tratamento. Pode ser mais do que sorte, pode ser timing onde o paciente se encontra no lugar certo e na horta certa, sabe? Pode ser um pouco de coincidência de você ser atendido por aquele(a) bam-bam-bam que você estava lendo sobre ele(a) na revista. Mas ainda assim, eu acho que tem que ter sorte!
O trabalho na farmácia me deu de presente uma dor estranha nas pernas, nos pés e nos joelhos. E eu não sou a única, pois meus colegas de trabalho também ficam em pé de 10 a 12 horas por dia sem sentar por nem um segundo e eles também tem dores. Eu não desenvolvi dores nas costas, como uns desenvolveram. Mas eu passei a ter uma dor praticamente crônica nos joelhos. Os pés incham e os joelhos viram dois melões quando eu trabalho. A dor só é controlada com anti-inflamatórios. Alguma coisa não tá certa, obviamente, e eu busquei ajuda médica.
Comecei a minha busca com uma tremenda falta de sorte. Não fui sortuda o suficiente para cair na mão de alguém brilhante o suficiente para me diagnosticar! Pelo contrário, eu ditava as etapas do meu tratamento pois os médicos estavam mais perdidos que cego em tiroteio. Eu não posso escolher um médico especialista e marcar uma consulta no sistema americano. Eu preciso passar pelo clínico geral para que ele avalie a necessidade de um especialista (ou não) e só então me encaminhar. Confesso que já ganhei rugas demais na cara por me estressar com esse sistema. Hoje em dia eu já aprendi que a saída é virar “amiga” do clínico geral, pegar o número do celular dele e ligar sempre que precisar de alguma coisa. Daí então ele simplesmente coloca todos os encaminhamentos e pedidos de medicamentos no computador me fazendo ganhar muito tempo! Mas voltando ao meu tratamento, eu tive que dizer que precisava ter o líquido inflamatório retirado do meu joelho. Ao invés de me mandar para a ortopedia, o meu clínico geral me mandou para a reumatologia. Vai entender. Mas eu fui assim mesmo porque eles iriam aliviar o meu desconforto e a minha dor. E assim eles fizeram! Além disso, eles ainda pediram uma série de exames de sangue para investigar algum tipo de fator reumatóide, pois estando na reumatologia eu provavelmente teria que ter alguma artrose, certo? Errado. Dez tubos de sangue depois e uns trinta exames negativos, nada foi diagnosticado. Mas ainda assim eles não estavam satisfeitos e insistiam em me ver novamente. Não voltei mais lá.
Voltei com o meu clínico geral e dessa vez, cara a cara, eu implorei por um encaminhamento para a ortopedia. Implorei mesmo porque naquele ponto já tinham passado seis meses, os dois joelhos já tinham sido furados duas vezes cada e nada se resolvia – eu continuava sem saber o que me causava tanta dor, inchaço e limitação dos movimentos! E finalmente ele se comoveu com a minha situação e me mandou para um ortopedista. Isso tudo que eu vou contando aconteceu muito lentamente levando várias semanas para realmente algo se concretizar, não só pelo sistema burocrático deles mas também por causa das muitas viagens que fizemos nesse fim de ano.
Quando voltamos do Texas, eu me surpreendi com uma carta de encaminhamento para um ortopedista fora do sistema médico militar. Depois fiquei sabendo que os ortopedistas militares estão todos ocupadérrimos com os soldados que perdem pernas e braços na guerra, e por isso todos os encaminhamentos estão sendo feitos para ortopedistas particulares. Como eu tinha uma ressonância magnética marcada com 3 semanas de antecedência, eu já poderia marcar a consulta com o ortopedista agora para até-lá-sabe-Deus-quando eu poder levar o resultado do exame junto. Então liguei ontem mesmo e, para a minha suspresa, descobri que já tinha disponibilidade para hoje. Foi aí que eu comecei a sentir a diferença entre sistema médico do governo (militar) e privado.
Mas eu ainda precisava conseguir os laudos & imagens da ressonância que eu tinha acabado de fazer. Fui no setor do hospital que faz as transferências para outros centros de saúde e estava preenchendo o formulário tristemente, pois sabia da demora de 20 a 30 dias para eles enviarem. [O sistema americano de saúde mantém todos os exames no hospital e é preciso requerer os resultados caso você queira ter com você.] Mas aí a minha sorte começou a mudar quando a moça que recebeu meu formulário me disse que eu poderia pegar as imagens em um CD. Como assim ninguém nunca me disse isso antes? Falta de sorte. O rapaz que me atendeu na última vez me fez esperar mais de 1 mês sem a menor necessidade. Fui na biblioteca de imagens do hospital e em 15 minutos eu saí de lá com todos os raios-x e ressonâncias magnética que eu já tinha feito na vida. Quando se tem sorte, tudo é diferente.
Hoje de manhã eu já estava sendo examinada por um ortopedista super bom e o melhor de tudo, fui diagnosticada! Depois de mais de 6 meses desfilando por aí com um tornozelo de elefanta sem saber por quê, hoje eu sei. Sofri um deslocamento na patela (joelho) que faz com que a cartilagem fique se esfregando no osso, causando um processo inflamatório.

O corpo produz líquido sinovial para indicar a inflamação, o que acaba transformando o meu joelho em algo assustadoramente inchado. E esse mesmo líquido desce para os pés, inchando os dedos, o tornozelo e tudo mais que encontrar pela frente. Os tendões laterais do joelho tentam compensar a patela deslocada e ficam tensos, limitando os meus movimentos. Pronto, tudo explicado e com um plano de ataque para resolver o problema: artroscopia! Minha sorte deu uma virada.
A ironia é que o meu clínico geral me ligou quando eu estava saindo do ortopedista para me dizer que o resultado da minha ressonância tinha saído e que tudo estava bem (???). Ele ainda queria me dizer para marcar uma consulta na reumatologia porque eles estavam querendo me ver para resolver o meu problema do inchaço. Parece que os reumatologistas continuam acreditando que eu tenho algum tipo de artrite. Foi aí então que eu pacientemente expliquei para o meu clínico geral tudo sobre o diagnóstico do ortopedista. E antes de terminar, eu ironicamente perguntei do clínico geral se ele achava mesmo que eu deveria ver os médicos da reumatologia. A resposta dele foi um NÃO redondo!
Seja no Brasil ou nos Estados Unidos, tudo caminha melhor quando se tem sorte de cair nas mãos do médico certo!
Ex corde.
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