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Archive for 11 de outubro de 2011

just_say_no

Há uma série de comportamentos na cultura americana que me irritam profundamente, há outros tanto que eu não entendo a razão de ser e tem um bocado que eu já incorporei na minha vida.  Uns viram um hábito mais facilmente, outros exigem uma quebra de paradigmas culturais, digamos assim.

Dizer não é algo que os americanos fazem sem muito esforço (invejinha!) e que requer um pouco de suor & sangue dessa brasileira que vos escreve.

Vou trabalhar com generalizações a partir de agora.  E como sei que toda generalização é burra, o meu texto vai ser meio discutível.  Fique à vontade para discutir nos comentários, se assim quiser.

Brasileiros não são criados para interagir socialmente de uma maneira objetiva.  Há todo um protocolo cheio de nove horas e seria possível até redigir um dicionário de expressões no estilo “quando alguém falar isso, elas querem dizer isso”.  Sentimentos como culpa e ressentimento caminham livremente nesse universo.  Dificilmente um brasileiro vai ignorar a palavra – culpa – ao soltar um NÃO para um amigo e/ou familiar.  É natural para a cultura local.  Se a objetividade não é exercitada desde criança, é difícil mesmo não se sentir mal ao ser objetivo. 

Eu confesso que engrosso a lista dos que tem dificuldade de dizer não.  Mas viver numa cultura mais direta tem me ajudado a mudar a minha maneira de pensar e de agir.  E sabe por quê?  Porque a vida é simplificada.  Confesso [2] que no início me chocava com a frieza toda a vez que alguém dizia não.  Mas geralmente não há milindres e nem sentimentos machucados porque as pessoas são “treinadas” para serem objetivas.  Já vi várias situações em que alguém diz não e a pessoa que recebeu fica de boa.  E o mais curioso é ver a liberdade de dizer não sem nem precisar explicar porque.  E o outro não pergunta porque.  Ninguém quer saber porque.  Simples.  Não dá, não dá!

Em termos práticos, é uma maravilha!  Quando minha amiga ofereceu um almoço de despedida para  a gente alguns dias antes da mudança, trabalhamos com o número EXATO de pessoas que iriam almoçar com a gente.  Nada foi comprado demais, nenhum desperdício de comida e nenhuma ansiedade esperando a Mariazinha que disse que vinha, mas nunca apareceu.  O curioso é que da mesma maneira que o não é não, o sim é sim!  Quando um americano diz que sim, pode contar com ele.  Todas as vezes que chamava os vizinhos para almoçar ao meio-dia, a campainha da minha casa tocava ao meio-dia em ponto.  Por mais ridículo que eu achasse, isso sem dúvida facilita a vida.  (A pontualidade é assunto para outro post.) 

Mais uma situação que reflete as diferentes culturas: o Google americano traz na busca de resultados vários artigos encorajando a prática do não com as crianças, como dizer não positivamente e, acima de tudo, respeitosamente.  A grande maioria é voltada para auxiliar os pais na formação dos filhos e como é aceitável dizer não.  It’s okay to say no.  Quando é a vez do Google brasileiro, os inúmeros artigos com idéias mirabolantes de desculpas esfarrapadas para dizer não me fizeram pensar no assunto.  Os artigos que não sugeriam mentiras para dizer não passavam invariavelmente no campo da culpa, ressentimento, mágoa.  Até que ponto esse aspecto da nosso cultura é saudável?       

Eu gosto da sensação de liberdade que um não traz.  É honesto.  Eu não me sinto obrigada, não preciso passar por cima de mim, não preciso apertar a minha agenda para encaixar mais um compromisso, e o melhor de tudo é que nada disso vem acompanhado por drama.  Quem recebe o não, não transfere a sua frustração e/ou sensação de rejeição levando para o lado pessoal.  Até porque sei que às vezes um não é tão mal recebido que dá vontade de chorar com a fraca interpretação.  Já passei por situações em que tive muita dificuldade para explicar para um brasileiro que o meu “não” não era uma ofensa pessoal contra a outra pessoa, sabe?  Vou vendo que a cultura em que estou inserida vem influenciando bastante a maneira como eu lido com o dizer não.  E você, como você lida com o não?  Você sabe dizer não ou ainda é uma arte?

E para aquele brasileiro que mora no Brasil e não tem problemas em dizer não?  Divide aqui comigo como você faz… =) 

Ex corde.

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